É um colorir da memória que ainda existe dos imberbes anos da Democracia na Madeira e condicionar a História? Não será?
Seria importante que todas as pessoas que têm memória dos anos em que a FLAMA espalhava o medo pela Madeira, que registassem, escrevessem, ou gravassem em vídeo o seu testemunho. É importante ter memória mais não seja para perceber o que se passa hoje na política madeirense.
Nasceu o mito
Eu nasci antes da formação oficial da FLAMA (1974), mas cresci sem ouvir falar, desta espécie de, guerrilheiros do atlântico. A FLAMA é para mim, uma ilustre organização desconhecida. Para mim, e para as três gerações que me seguem.Confesso que não me recordo do primeiro contacto, verbal, com a Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira. Imagino, que tenha acontecido por volta dos meus 20 anos. Ainda era um garoto.Como aos 22 “emigrei”, só voltei a ser confrontado com estes “independentistas” sem rosto aos 30 anos. Sem pedir, o tema “FLAMA” surgiu no meu caminho. A última vez foi no dia 30 de Abril de 2009. Conheci, pessoalmente, dois dos “cérebros” da organização. Segundo disseram, só resta um terceiro vivo. Os outros 13 já faleceram, mas desconheço se fizeram uma última ceia.Estes dois indivíduos. Um com 74, o outro com 85 anos, confessou fazer parte da “ala política” da FLAMA. Ao afirmá-lo, marca uma fronteira entre alas. A operacional. Ou seja, os “colaboradores” que entre 1974 e 1978, semearam o pânico na ilha.Como qualquer movimento tinham um sonho. 35 anos depois, o sonho continua vivo, mas já não existe a mesma chama. Digo eu! Para provar o contrário, no dia 25 de Abril (2009) uma outra ala. Que não a dos ideólogos. Já não têm idade para… Imagino que também não tenham sido os operacionais, ressuscitou o morto. Colocaram 6 gigantes bandeiras no Funchal.A operação foi bem sucedida. A máquina de escrever foi substituída pelo computador. O e-mail foi o meio mais seguro de passar a informação.Assim nasceu o morto.5 dias depois, a ala ideológica, viva, pediu “respeito” pela FLAMA. Costa Miranda, era o director adjunto do jornal oficial da organização – o “Madeira Nova”.Miranda desconhece os autores das bandeiras e os que colocaram a bomba na madrugada do dia 13 de Setembro de 1975, no avião da Força Aérea, “ Nord – Atlas”, estacionado na Placa do Aeroporto de Santa Catarina. Rejeita que tenha sido uma operação da FLAMA. Diz que aconteceu com a “conivência” dos militares “descontentes”. Daniel Drumond desmente o colega. Partilhavam a mesma mesa, mas não tem dúvidas. O acidente foi provocado por homens da FLAMA. Só não revela os nomes. Um já faleceu, o outro, ainda está vivo.Nesta conferência de imprensa. A primeira da FLAMA, ou de ex-flamistas, como fizeram questão de vincar no início da conversa com os jornalistas, não colocaram reservas sobre qualquer matéria.Miranda, o ideólogo, foi várias vezes irónico. À pergunta, sobre se pretendiam a independência. Foi categórico. “Na altura havia uma independência por semana. O único problema é que não éramos pretos. Se fossemos pretos, teríamos a independência. A Madeira é uma ilha africana.” Quanto às mortes; questionou. “Onde estão?” Num acto de contrição, assumiu uma. A do jovem, Rui Alberto, no Porto Santo e falou sobre uma outra morte, mas no Forte de Santiago. “Foram os militares que o mataram.”Daniel Drumond também tinha falado sobre mortes. Abordou o caso do “Julinho”. “Foi morto? Então não foi!!... A autópsia confirmou isso. Tinha uma pancada na cabeça, mas não morreu dela. Foi da queda. Há indícios que tentou se agarrar com as mãos antes de “escorregar””.A conversa decorria a bom ritmo. As respostas estavam na ponta da língua. Questionados sobre se a igreja apoiou a FLAMA? Não! Quem financiava…?“61%, os madeirenses. Eram simpatizantes da independência”.“No auge do movimento éramos 16. Mas, quem mandava? “A FLAMA tinha um problema. Não existia um líder. Ainda tentamos arranjar um, mas recusou.”Estes dois ex-flamistas não acreditam que tenham sido os ex-colegas da organização separatista a colocar as bandeiras. Para desmenti-lo, recordaram que a bandeira original da FLAMA tinha o escudo português no centro. “Não tem nada a ver com esta, que agora apareceu para aí. Se calhar, nenhum deles foi simpatizante da independência. Se calhar, andavam de fraldita, ainda.”Os sorrisos, rasgados de quem fazia as perguntas, face ao conteúdo das respostas, marcava de forma indelével, as duas frentes de combate. A dos jornalistas e a dos homens da FLAMA. Eles não desarmaram.Mantiveram a seriedade que o tema exige. “Dizem que em São Vicente que ainda fazem um almoço da FLAMA? É numa casa que existe quem vai na direcção do Seixal. Participam deputados? Sim! E de que falam nesse almoço? De tudo, chega a uma certa altura que estão tontinhos… Não será a FAMA? Lá Fama têm. Não sabe como são os almoços nesta terra?” Daniel Drumond, disse que esta é última vez que fala da FLAMA.A FLAMA é um tema que apaixona, os madeirenses. Quando surge, toda a gente tem uma história nova para contar. Toda a gente sabe, uma coisa, que ninguém sabe.Eu, para ser sincero, apenas sei que no passado dia 25 de Abril esta organização, desmantelada em1978 enfeitou a cidade.Se fosse mais um comum dos mortais madeirenses, nem ligava. Por razões profissionais, deixo este registo para alimentar o mito.
Publicada por Angel em 5/07/2009 11:02:00 AM