18/02/10

Uma opinião muito pertinente

Duas linhas
Terra adentro
Data: 18-02-2010

O avanço do mar sobre o território não se trava despejando terras ao mar, nem sugando areias até ao tutano, nem delapidando os calhaus que sustentam a erosão das ribeiras. Esta cegueira ambiental tem a cobertura de uma iliteracia política predominante, que cultiva a negligência e a premissividade em nome de proveitos sem rigor. Atribui-se carácter de urgência à obtenção de matéria-prima a custo zero para a construção, em detrimento da protecção civil e da segurança das arribas e do litoral madeirense; concessiona-se o fundo do mar às areeiras escondendo estudos que advertem para a super-exploração de inertes nos alicerces da orla costeira; procuram-se meios e subterfúgios legais para justificar os fins, atribuindo o rótulo de interesse público às atrocidades cometidas contra o ambiente, onde o desassoreamento desenfreado transforma ribeiras em tobogãs de lama; e a lama transbordada é autorizada - em nome do carácter de urgência, do supremo interesse e da santa demagogia - para que seja expulsa para esse eterno jazigo chamado mar. O desprezo que esta gente nutre pelo mar não é digno de um insular. É mais coisa de corsários. E quando o mar corrói as praias, lançamos culpas lá para fora... É verdade que as cimeiras têm nomes de lugares longínquos: Quioto, Copenhaga... mas a Cimeira do Litoral aconteceu cá há mais de seis anos. Não foi levada a sério e o tempo, hoje, coloca mar terra adentro.
Ricardo Duarte Freitas, Subeditor de Madeira